Contei meus anos e descobri que terei menos
tempo para viver daqui para a frente do que
já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma
bacia de jabuticabas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo
que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem
eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis,
para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que
nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de
pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo
majestoso cargo de secretário geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos,
quero a essência, minha alma tem pressa…
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado
de gente humana, muito humana, que sabe rir de seus
tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera
eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade…
Só há que caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.
O essencial faz a vida valer a pena. ‘
E para mim, basta o essencial!
Anúncios
Para mim, algumas poucas jabuticabas me darão lembrança de uma infância, há muito perdida. Saboreio, uma a uma, regalando-me com se fossem balas, que demoram para se dispersar.