Couch Surfing – Um mundo sem fronteiras

Conheci o Couch Surfing em janeiro de 2011. Eu estava na casa da minha irmã passando o Ano Novo, quando um amigo dela comentou sobre ter hospedado uma garota de outro país que não me lembro qual era. Surpresa por ele ter recebido uma pessoa que não conhecia em sua casa, fiquei muito curiosa e me informei melhor me inscrevendo no site assim que cheguei em São Paulo. A concepção do projeto me encantou desde o início.

A minha intenção aqui não é descrever o projeto, mas registrar um testemunho do ponto de vista emocional. Cada vez mais popular, qualquer pessoa pode escrever seu nome no Google e saber como funciona, mas eu recomendo o blog de uma jornalista que conheci através do grupo e que se tornou uma grande amiga, Angélica Feliciano, a querida Angie. Surpresa boa em minha vida como outras tantas que vieram por meio do Couch Surfing.

Odisséia Etílica
cerca de 180 pessoas caminhando juntas, tomando cerveja, dançando e rindo pelas ruas de São Paulo

No blog dela vocês podem tanto entender como funciona, como acompanhar as entrevistas que ela de tempos em tempos posta com os guests que ela hospedou.  “O projeto Couchsurfing funciona como um intercâmbio cultural entre pessoas de todo o mundo. A ideia principal é receber estrangeiros e também pessoas de outras regiões brasileiras em sua casa, hospeda-los (sem cobrar nada) e mostrar a eles a sua cultura de uma forma diferente. Não como um guia de viagem, mas de forma descontraída, fazendo com que o seu “guest” aprenda e vivencie a cultural local, vivendo o seu dia a dia.”, descreve ela em Mix de Letras (http://angiefeliciano.wordpress.com/2012/08/10/esse-tal-de-couchsurfing/).

São Paulo vista de cima no topo do Martinelli após um tour pelo centro histórico de São Paulo

Antes do Couch Surfing

Meu fracasso matrimonial acompanhado da imensa frustração que sentia são assunto para outra novela. Talvez um dia eu queira falar sobre essa experiência, mas hoje, só o que me parece relevante é a percepção do impacto que uma comunidade pode causar e mudar sua vida se você estiver aberto a novas, e muitas vezes, assustadoras possibilidades. E só por isso descrevo aqui meus sentimentos desse momento de separação.

Depois de 21 anos de relacionamento, entre namoro e casamento, quando eu vivi tanto tempo de uma forma praticamente reclusa da sociedade e minha vida social se restringia a família, clientes e uns poucos amigos escolhidos a dedo que a gente não larga, me vi recomeçando a vida sem saber bem como o fazer.

Por mais de um ano depois da separação, me escondi usando o trabalho como desculpa, apesar é claro da necessidade de sobrevivência e da reeestruturação urgente de uma pessoa que dividia a responsabilidade de uma vida a dois e passou a fazê-la sozinha. Quase dois anos depois, através de uma prima, conheci um espanhol que me apaixonei e que conversava diariamente. Nessa convivência diária, a cultura européia passou de certa forma a fazer parte do meu cotidiano e um sonho adormecido de conhecer o mundo reemergiu com a força avassaladora de um furacão que desordenou a ordem que eu procurava.

Um belga, uma francesa, duas russas, eu e outros tantos que não apareceram na foto comemorando La Noche Vieja na Plaza Puerta Del Sol, Madrid, Espanha

Quando me casara eu era apenas uma menina e ao me separar, uma mulher que havia perdido a auto estima, enterrado seus sonhos e só procurava paz, sem acreditar nas imensas possibilidades que o mundo poderia oferecer a ela. Eu não sabia que haveria um lugar na sociedade para mim, e tão pouco tinha expectativas que iam além de uma sobrevivência tranquila. É claro que com todos esses sentimentos à flor da pele, o Couch Surfing encontrou portas abertas para o aconchego. Mas assim como eu o recebi, fui recebida.

Depois do Couch Surfing

Meu primeiro meeting, encontro semanal onde estrangeiros e membros do grupo se encontram para confraternizar, foi uma experiência a princípio assustadora. Tímida, eu não sabia como chegar, o que falar ou como agir. Até pensei que seria um tipo de reunião onde falariam das regras do projeto e afins. Mas o que encontrei em plena terça-feira à noite, em meio a frenética rua Augusta, foi uma reunião descontraída e divertida de pessoas de várias raças, cores, credos, idades e culturas diferentes que simplesmente tinham como objetivo desfrutar daquele momento e de companhias de novos conhecidos.

Halloween – uma das tantas festas promovidas pelo grupo São Paulo

Muito rapidamente, o vírus CSurfiano entrou pelos meus poros e mergulhei em eventos e na participação ativa dentro do grupo. Como uma criança que não vê doce, me lambuzei de generosas doses de festas, eventos culturais e quase um ano depois usando o site para me hospedar numa viagem à Europa que eu nunca imaginaria poder fazer. Como muito açúcar me enjoa, com o tempo a fissura pela participação contínua me cansou um pouco. Não por culpa do projeto, mas da minha sede de vida que não percebeu no momento que de tudo, temos que ter um pouco, e sempre.

Esse final de semana, depois de meses sem participar de nada, estive no SP Invasion, uma grande festa com quatro dias ininterruptos de eventos onde recebemos viajantes de todo Brasil em nossas casas e algumas pessoas de outros cantos do mundo. Passeios culturais, festas, churrascos, bicicletadas, passeios por bairros de São Paulo, são algumas das atrações que rechearam esse feriadão que foi exemplarmente organizado por pessoas que o fazem por amor ao projeto.

Pessoas desconhecidas que entraram na minha vida de um dia pra outro, energia positiva, alegria e riso correndo nas veias com efeito tão forte ao de uma injeção de adrenalina, me fizeram relembrar a consequência da entrada do CSurfing na minha vida. Ele me mostrou que as fronteiras são só linhas imaginárias, mas principalmente, que são obstáculos que nós mesmos construímos ao nosso redor com medo do desconhecido. Idade, sexo, distância, cor, idioma, são também fronteiras fáceis de serem derrubadas. É um portal que se você observar pelo ângulo certo, pode te abrir as portas do mundo, da cultura, da superação das diferenças.

Um jantar argentino com espanhóis, brasileiros, mexicanos em Valladolid, Espanha

Não, ele não é um grupo perfeito. Como uma amostra da sociedade ele vai te mostrar várias faces, muitas que você não se identifica, não gosta ou não se encaixa. Mas para mim, ele foi uma ferramenta que ajudou a derrubar a torre onde eu me isolava e construir uma ponte para um mundo de novos amigos, viagem e libertação, rodeada por pessoas que se deixam levar pelo vento a todos os cantos do mundo.

7 pensamentos sobre “Couch Surfing – Um mundo sem fronteiras

  1. Valladolid??????? Que fríoooooo!!!! :-p
    Comparto tu opinión hacia todo lo que has escrito querida Ceres!! Te echo de menos!!!
    Un beso muuuuuyy gordo desde Sevilla!!!
    😀

  2. Ceres,
    Muito emocionada com seu post! Sincero e emocionante!! Busquei o CS num momento parecido com o seu, guardadas as diferenças, queria tb sair do quadrado … Encontrei uma nova forma de ver a vida e pessoas mais q especiais e completamente diferentes do q conhecia.
    Talvez o principal seja exatamente estar aberto as mudanças. Bjo

  3. Pingback: Onde fica o mundo sem fronteiras? | Sonhos em Mosaico

  4. Nossa…como é bom encontrar um blog como o seu, com posts interessantes! Eu adoro o couchsurfing, embora nunca tenha podido participar, pois moro numa cidade pequena e não recebemos estrangeiros com facilidade, mas estou lá cadastrado!! Parabéns pelo blog!

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